Editorial: A quem serve o retroativo? Dois pesos, duas medidas no Ministério Público da União

Editorial

Você está aqui: Início > Banco de Notícias > Notícia

 Por Renato Cantoni

Diretor Executivo do Sindicato Nacional dos Servidores do Ministério Público da União – SindMPU

Nesta semana, o Conselho Nacional de Justiça deu um passo acertado ao proibir o pagamento retroativo de verbas remuneratórias a juízes por meio de decisão administrativa dos tribunais. A medida aponta para um esforço de moralização das contas públicas e de respeito à legalidade no trato da coisa pública. No entanto, o que deveria ser regra para todos, no Ministério Público da União (MPU), parece funcionar sob uma lógica de exceção – ou melhor, de privilégio.

Enquanto os servidores do MPU lutam cotidianamente pela valorização de suas carreiras, enfrentando a corrosão inflacionária de seus salários e o congelamento de benefícios, os membros do MPU são agraciados com o reconhecimento, por decisão administrativa, do direito ao recebimento retroativo de licença compensatória desde 2015. E mais: com pagamentos mensais que podem chegar a R$ 46.366,19, conforme despacho do Vice-Procurador-Geral da República datado de 20 de maio de 2025.

A decisão se baseia em uma interpretação extensiva da paridade com a magistratura e da chamada “unicidade do sistema de Justiça”. No entanto, essa suposta paridade parece existir apenas quando interessa à Alta Administração. Onde está a isonomia quando se trata dos servidores? Por que os retroativos reconhecidos aos membros não se estendem automaticamente à base do serviço público que sustenta o funcionamento do MPU?

Diante desse cenário de evidente injustiça, convocamos todos os servidores e servidoras do Ministério Público da União a se somarem à luta liderada pelo SindMPU. É hora de transformar a indignação em mobilização, de transformar o sentimento de exclusão em força coletiva. Só com unidade e pressão podemos reverter esse desequilíbrio e garantir que os direitos da base sejam respeitados. A omissão é o que alimenta os privilégios. A mobilização impulsionará a mudança.

Enquanto sindicato, defendemos a equidade e a justiça no serviço público. E é justamente por isso que afirmamos: ou se reconhece o direito a todos, ou não se reconhece a ninguém. Não aceitaremos que os servidores sejam tratados como mão de obra secundária, invisibilizados nas decisões administrativas que favorecem apenas aqueles que ocupam os cargos mais altos.

É importante destacar que, enquanto os procuradores estão permanentemente mobilizados em defesa de seus interesses, os servidores também precisam se mobilizar para garantir seus direitos. A conquista de avanços depende da união, da força coletiva e da participação ativa de toda a categoria.

Mais do que uma questão jurídica, trata-se de uma questão política. O Estado democrático de direito não pode conviver com castas. O retroativo seletivo é mais uma expressão do abismo entre as carreiras do sistema de Justiça – e cabe a nós, servidores organizados, denunciar essa prática, exigir respeito e lutar por um Ministério Público verdadeiramente republicano.

Seguiremos firmes, com dignidade, coragem e unidade, defendendo o princípio da isonomia e os direitos dos servidores do MPU. A valorização não pode ser privilégio de poucos – ela deve ser direito de todos.

 

Brasília-DF, 21 de maio de 2025.
RENATO CANTONI
Diretor-Executivo Nacional do SindMPU

Outras notícias

 

Nenhum resultado encontrado.
SindMPU Convoca Técnicos Administrativos para II Encontro Nacional dos Técnicos Administrativos em São Paulo
Diretoria Nacional do SindMPU participa de assembleia ordinária em Mato Grosso